Ademir Pereira da Cruz Júnior*
Introdução
O jornalismo científico é uma especialização jornalística com definições
conceituais relativamente recentes na imprensa. Como qualquer outra ramificação, ele é
uma decorrência natural da transformação pela qual a imprensa passou ainda no final do
século passado, quando deixou de praticar o jornalismo político-social e passou a
praticar o ideológico-mercantil, que persiste até hoje.
Referindo-se ao jornalismo ideológico-mercantil, Marques de Melo afirma que ele se
manifesta através de duas características básicas: "sensacionalismo ( para vender
a notícia é preciso despertar as emoções do público consumidor) e atomização ( o
real é percebido não em sua totalidade, mas em seus fragmentos: política, economia,
esportes, ciência, etc)" (1)
E, baseado na premissa dessa política ideológica mercantilista vivida pela imprensa há
quase um século, o professor Marques de Melo não hesita em afirmar que o jornalismo
científico é um produto típico dessa ideologia do jornalismo praticado atualmente.
O professor Wilson Bueno (2) alerta que a expressão jornalismo científico tem sido
utilizada , no Brasil, de maneira genérica para definir a veiculação de informações
científicas e tecnológicas pelos meios de comunicação de massa, o que tem contribuido
para legitimar algumas imprecisões, ambiguidades conceituais e a frequente confusão
entre jornalismo científico e outras teorias e práticas que tratam do mesmo objeto,
identificadas pelos termos difusão, disseminação e divulgação.
Citando o venezuelano Antonio Pasquali, o professor conceitua difusão, disseminação e
divulgação. "Difusão: na prática , faz referência a todo e qualquer processo ou
recurso utilizado para veiculação de informações científicas e tecnológicas.
Disseminação: pressupõe a transferência de informações científicas e tecnológicas,
transcritas em códigos especializados, a um público seleto, formado por especialistas.
Divulgação: compreende a utilização de recursos, técnicas e processos para a
veiculação de informação científica e tecnológica ao público em geral" (3).
Quanto as funções e objetivos do jornalismo científico, eles são muitos e se
relacionam diretamente com as funções e objetivos fundamentais do jornalismo.
Entretanto, este trabalho se prenderá com maior ênfase a um objetivo/função:
"prestar serviço ao público" (4), informando, formando e orientando.
Nesse processo, antes mesmo de informar é preciso formar, ou seja, educar, esclarecer,
ampliar conhecimentos, pois as pessoas saem muito mal preparada das escolas e até das
universidades. Normalmente não têm conhecimento sobre princípios básicos da ciência e
tecnologia e a maioria, exceto em algumas áreas da Biologia, nada sabe sobre seu próprio
corpo e a manutenção da saúde. Seria, então, função primeira do jornalismo e do
segmento relacionado com a divulgação de Ciência e Tecnologia formar o seu público
alvo sobre coisa comuns, de domínio público e importantes para a sobrevivência,
bem-estar, melhoria da qualidade de vida.
Nesse sentido, um estudo sobre a AIDS (5) é um bom exemplo (infelizmente) da necessidade
de formação do cidadão comum. A pesquisa realizada, em 1996, pelo Departamento de
Medicina Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro, entrevistou 1230 homens e
mulheres de 15 a 49 anos na cidade do Rio de Janeiro e o resultado apontou que: "26,5
acham que podem pegar AIDS por compartilharem copos e talheres infectados; 16,4 afirmam
não usar camisinha por não saber o modo correto de utilizar e; 4,8 acham que podem pegar
AIDS tocando no doente".
Falta de informação? Não. Falta de formação. Até porque a mesma pesquisa revela que
"os índices de informação básica sobre a doença chegaram a quase 100% da
população entrevistada". Afinal, nunca uma campanha ocupou, durante tanto tempo,
tanto espaço nos meios de comunicação de massa. Supõe-se então que havia informação
de mais e capacidade de assimilação de menos.
Uma explicação para a situação pode ser uma formulação do professor Frederick Litto
(6), no qual ele adverte que se algumas providências não forem tomadas a curto prazo,
corremos o risco de ter altas tecnologias funcionando num ambiente de baixa
confiabilidade, com enormes problemas decorrente deste paradoxo. Em outras palavras de
nada adiantará o país ter produção científica e avanços na forma de divulgação
desta, se não tivermos, na outra ponta do processo de comunicação, ou seja no receptor,
uma formação mínima que possibilite a codificação da mensagem e o possível
benefício que a ciência pode proporcionar.
A partir do momento em que a formação mínima necessária dos cidadãos possibilitasse a
absorção de informação, aí sim esta passaria a ser a função principal do jornalismo
científico. Esse pré-requisito (formação satisfatória), não é segredo para
ninguém, deveria ser sim função primordial do Estado, através do sistema educacional.
Porém, o sistema educacional brasileiro passa por uma das piores crises de sua história.
O nível de ensino despencou, atrelado ao ânimo dos professores mal remunerados e ao
montante, cada vez menor, de verbas destinadas à educação. Análise ou crítica ao
sistema educacional brasileiro não fazem parte do objeto de estudo desse trabalho, mas,
enquanto a escola continuar formando mal, alguém terá que complementar essa formação.
E essa é, cada vez mais parece ser uma das principais funções do jornalismo no Brasil e
do segmento ligado a divulgação de Ciência e Tecnologia.
Descrição da pesquisa e metodologia
A intenção deste trabalho é levantar hipóteses sobre a utilização da informação
sobre Ciência e Tecnologia pelo estudante concluinte de 2ºgrau e por aqueles que
acabaram de ingressar na Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), procurando
verificar se há interação com a informação e, se assism ocorrer, de que forma ela
acontece.
Assim, as informações obtidas foram analisadas com o objetivo de averiguar a existência
ou não de interconexões de fatores sociais em relação à recepção da informação
sobre Ciência e Tecnologia.
A opção por um estudo exploratório deu-se pela necessidade de aprofundar o conhecimento
das relações do estudante com a informação sobre Ciência e Tecnologia, identificando
itens que possam proporcionar uma visão geral de como se dá o processo.
O instrumento utilizado foi o questionário semi estruturado, permitindo aos estudantes
escreverem com liberdade sobre a divulgação de Ciência e Tecnologia, mas sem se
afastarem do tema e do objetivo da pesquisa.
Os itens determinados a priori foram: principal fonte de informação, principais
característica da divulgação segundo os estudantes; temas mais lidos, vistos e ouvidos;
utilização da divulgação científica pela escola; e a possível utilização da
informação sobre Ciência e Tecnologia no vestibular.
A amostra, composta por 102 estudantes concluintes de 2ºgrau e 30 que ingressaram na
Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) em 98. O número, 132 questionários foi
assim determinado por ser convencionado como mínimo ideal, pois corresponde a 2 a 3% do
total, pois Vitória, cidade com 256.000 habitantes tem aproximadamente 4.200 estudantes
concluintes do 2ºgrau e na Ufes ingressam cerca de 1.300 por semestre.
Considerações teóricas
Resultados de pesquisa realizada por Riley e Riley (7) indicam que, além dos aspectos
psicológicos do comportamento, existem "conexões possíveis entre a percepção do
receptor com a estrutura social".
Os indícios abordados na pesquisa acima mencionada também foram detectados neste
trabalho. As teorias das categorias sociais e a de usos e gratificações foram
parâmetros para as análises das perguntas abertas do questionário, neles tentou-se
articular alguns pontos específicos da hipótese dos "usos e gratificações":
" a audiência concebida como ativa, isto é partindo do pressuposto que os objetivos
da utilização dos medias, do ponto de vista metodológico, podem ser conhecidos pelos
destinatários" (8).
Conforme Berlo (9), os objetivos do receptor podem ser consumatórios ou instrumentais na
medida em que ele busque a recompensa imediata, ou queira "estar informado",
utilizar informação para fins práticos. Nesta pesquisa foi encontrado que a maioria dos
estudantes têm na informação sobre Ciência e Tecnologia uma motivação instrumental.
Dizem que os assuntos tratados "são úteis no vestibular", "são
utilizados em disciplinas", e "ajudam em trabalhos escolares". Muitos
afirmam ter "interesse pessoal" e outros que o "interesse é social",
"relacionado com a necessidade em acompanhar e participar dos grandes debates".
Entre os motivos de consumação, o principal mencionado é a "curiosidade a ser
satisfeita".
De acordo com a teoria das diferenças individuais de Festinger (10), a curiosidade ativa,
o puro prazer de adquirir informação e a possibilidade de relevante ação futura leva
as pessoas a buscarem as informações que forem pertinentes à ação que têm de
empreender. Como exemplo disto, encontra-se neste estudo as motivações: "aumento do
interesse em discutir e estudar temas relacionados à Ciência e Tecnologia",
"aumento do interesse em se aprofundar em certas disciplinas"; e "tomar
conhecimento de instruções e da prática de assuntos científicos e tecnológicos".
Dessa forma, embora a adoção de questionários como instrumento de pesquisa não permita
uma análise individual mais aprofundada, mas sim uma análise estatística, neste estudo
esploratório observou-se a existência da interconexão de motivos, usos e
gratificações do consumo de informação sobre Ciência e Tecnologia de acordo com as
abordagens teóricas. De qualquer maneira, conclui-se que é um equívoco alegar que o
interesse de estudante de 2º grau pela informação sobre Ciência e Tecnologia está
somente relacionado com o vestibular. O estudante sabe o que procura: "acompanhar a
evolução tecnológica e científica", "abrir a mente para Ciência",
"ajuda na formação profissional", "relacionar teoria e prática".
Características da amostra
Dentro da amostra dos alunos concluintes, os alunos das escolas da rede pública estadual
foram a maioria, enquanto os de escolas particulares e da escola Técnica Federal foram
maioria nos que acabaram de ingressar na Universidade. Os alunos da rede pública estadual
preferem como principal fonte de informação a TV GLOBO/GAZETA enquanto os da escola
pública federal e particulares preferem as revistas (Veja e SuperInteressante). Mas, o
fato de preferirem a informação de Ciência das revistas não exclui a possibilidade de
obter informações que fazem alguma referência a Ciência na TV, o que inclusive é
bastante comum. Já os alunos da rede pública estadual, em grande maioria, dizem que não
têm meios para ler as revistas e jornais, dificilmente compram, principalmente devido ao
preço e a condição econômica, e nem os encontram em bibliotecas.
Nota-se, portanto, que o nível econômico pode ser um fator determinante para a escolha
da fonte de informação. Ainda que o universo pesquisado não tenha sido classificado por
classe social, pode ser dito que é mais difícil os alunos da rede pública estadual
acessar as revistas e jornais com informação sobre Ciência e Tecnologia. Soma-se ainda
que a grande maioria dos alunos da rede pública estadual declararam a não utilização
de qualquer material relacionado com a informação sobre Ciência e Tecnologia pela
escola. Por outro lado, isso não quer dizer que os estudantes das escolas da rede
pública estadual tenham menos interesse pela informação sobre Ciência. Embora as
escolas não utilizem, a maioria dos alunos acham importante a utilização. Nesse
sentido, grande parte crítica as limitadas bibliotecas das escolas da rede pública
estadual, além das precárias condições das bibliotecas públicas em Vitória; a
consequente dificuldade em ter acesso a jornais e revistas e; principalmente, as péssimas
condições do equipamento de apoio(televisão, videocassete, gravador) nas escolas.
Pôde-se observar também, que os estudantes se lembram mais das notícias sobre Ciência
e Tecnologia em função da atualidade do tema e da frequência. Dentre as que eles mais
citam, os assuntos são clonagem, viagem a Marte, El Niño, Vida em outros Planetas,
desenvolvimento da Engenharia Genética, Drogas e Aids.
A quantidade de assuntos aumenta e se diversifica nos alunos que prestaram vestibular,
principalmente nos alunos da Escola Técnica Federal e das escolas particulares. A
clonagem, a viagem a Marte e El Niño continuam a ser citados, mas aparecem também os
temas relacionados a cinemática, conflitos Internacionais, efeito estufa, inversão
térmica, cólera. Esses dados sugerem que a busca de informação de Ciência e
Tecnologia é mais específica nos alunos que prestaram o Vestibular e têm uma possível
relação direta com a possibilidade de futuras questões nos exames.
Interesse pela informação sobre Ciência e
Tecnologia
Uma das percepções mais contundentes do trabalho é o interesse em ter acesso a
divulgação de Ciência e Tecnologia. A maioria dos estudantes justifica como pessoal ou
social o interesse, relacionado a necessidade de acompanhar e participar dos debates
sociais.
Grande parte percebe "tendências" editoriais nos veículos de comunicação o
que se reflete na informação sobre Ciência e Tecnologia, seja em um veículo
específico, "Globo Ciência, SuperInterressante, Ciência Hoje, Caderno de Ciência
da FOLHA DE S. PAULO, página de Medicina de A Gazeta", ou não. Alguns até
justificam que é impossível um veículo de comunicação ser totalmente isento, pois
sempre haverá interesses em questão . Embora tenham essa percepção, não se sentem
manipulados, pois dizem que recebem a informação e tiram suas próprias conclusões.
Muitos, apesar do interesse, afirmam não acreditar em grande parte do noticiário
científico. Desconfiando das informações e criticando a superficialidade. Alguns
mencionam matérias que nos seus títulos criam expectativas nem sempre cumpridas no
conteúdo. Muitos colcam como causa da decepção o veículo, o meio, o jornalista e o
jornalismo.
Muitos percebem a divulgação de Ciência e Tecnologia da revista como mais elaborada do
que o jornal, tanto em forma como em conteúdo, e mais especializada. Nela buscam suprir
suas necessidades específicas. Quanto aos programas de TV que fariam alguma referência a
Ciência os mais citados são o "Globo Repórter", apontado como o mais
instrutivo e interessante, principalmente pelos alunos das escolas particulares e da
escola Técnica Federal, e o "Fantástico", apontado como o mais interessante e
o que apresenta a informação de Ciência de forma "mais legal",
"bonita", "fácil de entender".
Condição econômica, formação e
informação
As revistas e jornais são caros, tendo ainda o agravante que bibliotecas em escolas
públicas estaduais praticamente não existem, e as bibliotecas públicas estaduais e
municipais no Espírito Santo se encontram em funcionamento no mínimo precário. Esta
realidade tem influência decisiva nas condições de acesso dos estudantes à
informação sobre Ciência.
No geral, o que se percebe, é que praticamente todos os alunos gostariam de acessar
revistas, jornais, vídeos com informação sobre Ciência e Tecnologia. Porém, isso só
acontece com os alunos das escolas particulares e da escola Técnica Federal. Os alunos da
rede pública estadual não podem comprar, além disso a escola também não utiliza
qualquer material de divulgação de Ciência, e ainda o alunos não têm ao menos um
lugar onde possam ter a possibilidade de acessar.
Em relação aos estudantes que ingressaram na Universidade Federal do Espírito Santo
(Ufes), a referência a utilização de material de divulgação de Ciência e Tecnologia
é ainda maior, quase todos alunos questionados afirmam que sua escola utilizava vídeos,
jornais e revistas. Esses alunos, que compõem a maioria da amostra dos recém
universitários, cursaram ou escolas particulares ou a escola Técnica Federal
Conclusão
Este estudo procurou modestamente responder às questões sobre os hábitos, a percepção
e o comportamento dos estudantes de segundo grau em relação à divulgação de
informações de Ciência com a finalidade de analisar o relacionamento estudante-
divulgação de Ciência.
A partir das respostas dos itens pré-estabelecidos, e de outros aspectos que surgiram nas
respostas destacamos algumas conclusões:
1. Existe um público potencial para a divulgação de informações de Ciência, ao
contrário da falsa idéia formulada por alguns empresários da Comunicação no Espírito
Santo e Brasil, de que a "Ciência não vende espaço nos medias".
2. As limitações atuais da divulgação de Ciência pelos medias são percebidas pelos
estudantes de segundo grau, pois muitos , apesar do interesse, afirmam não acreditar em
grande parte das notícias que fazem alguma referência à Ciência, desconfiando das
informações e criticando a superficialidade. Nesse sentido, tal percepção se aproxima
de uma análise recente sobre o noticiário "científico", feita por Alberto
Dines (11), no qual ele conclui que o "noticiário científico" ou
"médico" se transformou num pátio de milagres, com o depósito diário em cima
de leitores, ouvintes e telespectadores das mais disparatadas novidades fabricadas nos
escritórios de marketing da indústria farmacêutica, nos departamento de pesquisa de
universidades e mesmo nas publicações científicas generalistas.
Sobre a participação do jornalista no processo Pierre Bourdieu (12) é enfático.
"O jornalista é responsável diretamente por esse fazer jornalístico,
principalmente em relação a cobertura televisiva, pois adota o critério do índice de
audiência, ou seja na produção a opção é, na maioria das vezes, pelo fazer simples,
fazer curto". Também em relação a avaliação dos produtos e produtores a opção
é duvidosa. Normalmente, em relação a TV, ela é vinculada pelos diretores,
redatores-chefes a possíveis patrocinadores, ou outros nomes afins.
3. A omissão por parte das instituições produtoras de conhecimento também ficou
caracterizada neste trabalho. Não há nenhuma resposta em algum questionário que
identifique algum meio ou forma de divulgação de Ciência, relacionado a alguma
Universidade, Fundação, Instituto, Escola, ou ainda Prefeitura, orgão estadual ou
federal.
4. Em vista destas conclusões, podemos levantar alguma modestas indagações que poderão
contribuir para que a divulgação de Ciência se desenvolva no Espírito Santo e no
Brasil. Nesse sentido será interessante promover novos estudos visando:
a) Análise do discurso sobre desenvolvimento científico e tecnólogico.
b) Análise de conteúdo do material, que faz referência a Ciência e Tecnologia,
produzido pelos medias do Espírito Santo e Brasil
c) Analisar e aprofundar o entendimento dos motivos das omissão das instituições
produtoras de conhecimento em relação á divulgação de Ciência.
Referências bibliográficas
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Comunicação e Sociedade,v.4, n.7, março de 82.
2) BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo científico: conceitos e funções. São Bernardo do
Campo: Ciência e Cultura, v.37, n.9,setembro de 85.
3) BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo científico: conceitos e funções. São
Bernardo do Campo: Ciência e Cultura, v.37, n.9,setembro de 85.
4) Alberto Dines sempre enfatiza essa função do jornalismo.
5) In Relatório da Pesquisa sobre as Campanhas contra AIDS. Departamento de Medicina
Social, Universidade Federal do Rio de janeiro, mimeo, 1996.
6) LITTO, Frederick M. Difusão Científica e desafios tecnológicos: Mitos e realidade.
São Bernardo do Campo: Comunicação e Sociedade, revista editada pelo Instituto
Metodista de Ensino Superior (IMES), v.7, n13, junho de 1985.
7) RILEY, John, " A Comunicação de Massa e o Sistema Social" . In COHN,
Gabriel, Comunicação e Indústria Cultural. São Paulo: Editora nacional.
8) WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Editorial Presensça.
9) BERLO, David. O processo da Comunicação. Rio de Janeiro: Editora martins Fontes,
1991.
10) FESTINGER, Leon. Teoria da Dissonância Cognitiva. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.
11) DINES, Alberto. "Pulitzer no Pátio dos Milagres". In Folha de S. Paulo,
18/04/98, cad.04, p.09.
12) BOURDIEU , Pierre. Sobre Televisão. Rio de janeiro: Jorge Zahar Editores, 1997.
Bibliografia
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ROSSI, Paolo. Los filósofos y lás máquinas: 140-170. Barcelona: Labor.
Texto Complementar
Para contextualizar e obter informações sobre a relação entre Ciência e divulgação
foi feito um levantamento através de uma consulta bibliográfica, apresentada nesta parte
do trabalho.
Ciência e divulgação
Para alguns autores começou quando o homem passou a ter a percepção das observações
e, principalmente, quando ele registrou de alguma forma suas observações. Assim
aconteceu nas representações de Bisões na caverna de Maux, ao sul da França, que são
fiéis estudos anatômicos, com a flecha penetrando exatamente no lugar do coração. Tais
representações eram feitas na esperança de que o desejo se realizasse, pois o homem
primitivo também era supersticioso. Mas, excluída qualquer superstição, elas fixavam
uma útil técnica de abate de animais.
No decorrer da história, os homens descobriram que os grãos de certas gramíneas eram
bons para comer; que da semente nasciam novas plantas; que se escolhessem um pedaço de
terra apropriado, podiam cultivar grande quantidade de tais plantas e; que se raspassem o
chão, as plantas se enraizavam melhor. Dessa maneira se tornaram lavradores, aplicando a
ciência de suas observações.
Quando os homens começaram a viver em comunidades e a negociar, precisaram de números. O
modo mais cômodo era contar com os dedos, ou então fazer entalhes em varas. Depois,
nossos antepassados descobriram que era mais fácil contar seixos. E o estágio seguinte
foi dispor os seixos de forma conveniente: enfiaram num fio e criaram o ábaco ou o quadro
de contar. Os mexicanos e peruanos já usavam o ábaco antes de os espanhóis chegarem no
novo mundo. Os chineses e os egípcios o possuiam mil anos antes da era cristã. Os
romanos o tomaram emprestado dos etruscos.
Uma vez feita a conta, era necessário anotá-la. Apareceram então os números. Os que
hoje usamos vieram dos hindus. São provavelmente as iniciais das palavras hindus que
designavam "dois", "três", "quatro", e assim por diante. E
o zero era possivelmente o ovo não chocado.
Quando conseguiu identificar as estrelas, o homem pode orientar-se sobre a superfície da
terra. Entretanto, sob a superfície havia também grandes mudanças. Há cinco mil anos
atrás, na Pérsia, os homens começaram a cavar QUANATS, ou poços horizontais, ao longo
do curso de fontes subterrâneas, com poços de ventilação verticais em intervalos, até
suas nascentes nas colinas. A fim de se orientar no trabalho de escavação, usavam uma
bússola primitiva de magnetita. Esta pode ter-se originado na Pérsia ou vindo da China;
de qualquer maneira, alcançou o Mediterrâneo, ali convertendo-se na bússola magnética
que auxiliou as grandes navegações e que Faraday usou para a produção da eletricidade.
O início da divulgação científica
Aconteceu em meados do século XVI, quando os primeiros cientistas se defrontavam com a
censura de suas atividades pela Igreja e pelo Estado. Encontravam-se às escondidas em
várias cidades para informarem uns aos outros sobre suas descobertas relativas à nova
filosofia natural. Das reuniões desses grupos, que compreendia nobres, eruditos, artistas
e mercadores, brotou a tradição da comunicação aberta e oral sobre assuntos
científicos e as "accademias".
A Accademia Secretorum Naturae surgiu em Nápoles, Itália, em 1560, como a primeira de
muitas sociedades científicas que floresceram nas cidades onde os novos
"cientistas" podiam se reunir com facilidade. Roma tinha sua Accademia del
Lincei, que durou de 1603 a 1630. Em Florença, a Accademia del Cimento foi fundada sob a
proteção do grão-duque Ferdinando de Medici e seu irmão Leopoldo em 1657. Durou dez
anos, terminando pouco depois que Leopoldo recebeu seu chapéu cardinalício. Os
historiadores suspeitam de que o preço da mitra vermelha foi a contribuição de Leopoldo
para a dissolução da Accademia, um grupo problemático para a igreja. Alguns de seus
membros foram esquadrinhados pela Inquisição e um membro da sociedade de Florença
suicidou-se para evitar a tortura.
Na Inglaterra, a Royal Society for the Improvement of Natural Knowledge foi proposta por
Francis Bacon em 1620 e aprovada em 1662 por Charles II. Muitos de seus membros estiveram
se encontrando durante anos no Gresham College, em Londres, e em Oxford sob o nome de
Invisible College. Louis XIV estabeleceu a Académie des Sciences, em Paris, em 1666.
Frederico da Prússia seguiu o exemplo criando a Academia de Berlim em 1700. Os Estados
Unidos regulamentaram sua National Academy of Sciences em 1863.
Trocas de cartas, monografias e livros em latim estabeleceram o padrão da comunicação
entre indivíduos, entre sociedades nas cidades, e entre as sociedades nacionais. Os
cientistas preferiam as cartas (com frequência impressas, de modo que cópias pudessem
ser enviadas a vários cientistas) porque os funcionários dos governos eram menos
inclinados a abrir o que parecia ser correspondência ordinária. Seus temores tinham
algum fundamento. Em 1667, Henry Oldenburg, secretário da Royal Society, foi aprisionado
na torre de Londres quando o secretário de estado britânico achou que alguns
comentários contidos numa comunicação científica criticavam a conduta de guerra da
Inglaterrra com os holandeses pelo comércio das Ïndias Orientais.
Foi o mesmo Oldenburg quem criou à publicação Philosophical Transactions, periódico da
Royal Society. Através do domínio de vários idiomas, Oldenburg pode traduzir textos de
várias fontes para publicação em inglês e latim, criando uma linguagem para a
divulgação científica.
Muito do que era publicado podia ser compreendido por qualquer das pessoas da época. E à
medida que a complexidade aumentava, as primeiras versões de jornais e revistas
apareceram na Inglaterra e Europa, e os artigos dos periódicos científicos eram
reescritos e publicados de modo que pudessem interessar a seus leitores.
No final do século XIX, os caminhos da Ciência e sua popularização estavam divergindo.
A Ciência movia-se em direção à profissionalização extrema, pois estava se tornando
ocupação de tempo integral, fora do campo dos comerciantes, dos cléricos e dos que as
praticavam por hobby.
Um interesse comum por novos conhecimentos ainda existia entre cientistas e não
cientistas, mas este estava se separando. Os cientistas "puros" lideravam a
separação. Havia cerca de setecentos pesquisadores publicando no mundo naquela época, e
eles enfatizavam o avanço de suas disciplinas na direção dos interesses do público e
das indústrias locais. Queriam os amadores fora. Os cientistas estavam principalmente em
Universidades ou empregos do governo, e alguns historiadores afirmam que seus motivos
podem ter levado ao aumento de sua fatia de prestígio e assistência financeira (kevles,
1980).
A especialização, entretanto, estava no ar. Os pesquisadores científicos abandonaram as
sociedades locais, fundaram seus próprios grupos profissionais e assumiram o controle de
organizações "nacionais".
A seu modo peculiar, o jornalismo popular da época ajudou esse movimento. Embora alguns
jornais e revistas veiculassem acuradamente notícias científicas, outros usavam a
pseudociência e a ciência sensacionalista para promover a guerra entre os jornais,
pricipalmente na Europa. Em meio disso Nature começou na Inglaterra em 1869 e atraiu
notáveis cientistas como autores. Nos Estados Unidos, somente no final do século XIX que
Thomaz A. Edison fundou uma revista com poder de permanência. John Michels era o redator
free-lancer, ele também escrevia sobre as reuniões da sociedades científicas para o New
York Times.
A revista trazia textos importantes sobre experiências. Um dos primeiros
"furos" de Science foi o relato de Alexander Graham Bell sobre seu
"Photophone". Dezoito meses mais tarde, Edison transferiu a propriedade a
Michels e pagou as dívidas da revista. Michels, novamente cobrindo sociedades
científicas para jornais de Nova Iorque, terminou por despertar o interesse de Bell pela
revista, mas ao fazê-lo perdeu sua publicação.
Bell e seu sogro Gardiner Hubbard investiram em Science desde 1883 até março de 1894
quando o então editor N.D.C. Hodges fechou a revista por falta de fundos suficientes.
Ironicamente, apesar de Bell lamentar o dinheiro perdido, Hubbard emprestou dinheiro a
Hodges até o fim. Podia arcar com isso porque também havia iniciado uma publicação
chamada National Geographic Magazine. Esta era popular e bem sucedida ao extremo.
Os líderes da American Association for the Advancement of Science (AAAS), quando perderam
uma publicação feita a seu gosto, propuseram subsidiar uma Science renascida que iria
publicar os trabalhos apresentados nas reuniões da sociedade. De um modo que nem a
própria AAAS compreende, o psicólogo James Mackeen Cartel tornou-se editor. Antes da
AAAS definir a adoção da Science, Cattel havia persuadido Bell e Hubbard a dar-lhe a
propriedade. Cattel editou a revista por cinquenta anos, tornando-se um rico editor em vez
de professor. Ao final, a AAAS iria pagar à sua viúva mais de 250 mil doláres pela
propriedade da revista em 1945 (Sokal, 1980).
Foi uma grande compra para a AAAS, sendo que sua publicidade disparou quando bilhões de
dólares de dinheiro federal foram despejados para a pesquisa de desenvolvimento depois da
II Guerra Mundial. A Publicidade de construtores de equipamentos científicos, contratados
do governo e universidades empregando cientistas transformou as revistas na principal
fonte de renda para muitas sociedades científicas, médicas e técnicas. Em 1980, o
orçamento da Science havia ultrapassado os 7 milhões de dólares. A circulação mesmo
tendo caído após um pico de 163 mil exemplares em 1971, ainda era maior que 152 mil e
estava aumentando na década de 80 (Wofle, 1980, 57-62).
Ao contrário do que ocorria nas sociedades científicas da Europa, principalmente da
França, os cientistas americanos permaneciam alheios aos temas políticos. A neutralidade
política tornou-se a posição oficial para eles e para seu trabalho. O jornalismo
americano também seguia um caminho neutro denominado "objetividade". A AAAS
também eliminou a preocupação com o sistema de educação; encerrou a publicação da
Science Monthly, que havia sido organizado através da AAAS para explorar temas da
comunidade educacional. A AAAS iria retomar o interesse pela educação quando subsídios
federais para educação concedidos em função da guerra, permitiram ao pessoal militar
frequentar cursos de pós-graduação em Ciência, expandir as fileiras de PHD's, povoar
os laboratórios de cientistas administradores, e publicar jornais de pesquisa realçando
as reputações dos laboratórios, das universidades e dos administradores.
Ciência pura e popular
Embora os cientistas recuassem do contato profissional com o público em geral e as
preocupações práticas da sociedade, os leigos não foram privados de informação
científica e técnica. Os editores da imprensa popular escreviam sobre o que eles e seus
leitores podiam compreender, mas com o objetivo de despertar o interesse dos leitores
frequentemente enfeitaram suas matérias com o bizarro e o imaginário. Os jornalistas
descreviam as radiografias do esqueleto humano e outros objetos ocultos, alimentavam e
aumentavam a curiosidade de seus leitores com muitas idéias relacionadas com isso, porém
fantasiosas, incluindo a possível necessidade de se criarem roupas íntimas femininas à
prova de radiação.
Algumas revistas como Haper's e a Atlantic, exploravam eventos e temas científicos. Uma
nova espécie de revista florescia na forma de publicações comerciais e industriais
voltadas para os negócios alinhados com as novas tecnologias que produziam maravilhas
químicas, mecânicas e elétricas. Os fazendeiros eram os alvos de revistas sobre
agricultura. Essas publicações estavam em mãos privadas e podiam discutir livremente
tópicos que as publicações científicas preferiam ignorar, incluindo batalhas
políticas e pessoais no interior das sociedades especializadas.
Os jornais, que estavam rapidamente se transformando em veículos de massa, davam aos
leigos, na maioria das vezes, a impressão de que a Ciência se centrava no bizarro.
Histórias sobre o estranho, o incomum e o impossível enchiam a imprensa popular após a
virada do século. Entretanto, os jornais também apanharam o desenvolvimento das teorias
de Albert Einstein sobre a relatividade e a revolução física que se seguiu.
Na época da I Guerra Mundial, que foi caracterizada como a guerra dos químicos quando os
cientistas (e engenheiros) descobriram novos modos de produzir material de guerra. Como os
cientistas relataram, em suas convenções, os jornalistas retransmitiam e glamourizavam
as descobertas da química. O papel visível da química industrial, desempenhando durante
e após a I Guerra Mundial, ajudou os jornalistas e seus patrões a reconhecerem que os
cientistas mereciam atenção mais séria. A II Guerra tornou-se a guerra dos físicos por
sua contribuição em dividir o átomo para derivar bombas de fissão e poder nuclear.
Dessa vez nem mesmo os cientistas concordaram que uma vida melhor resultaria daí.
Um novo tipo de notícias sobre ciência surgiu entre as guerras. Os jornalistas
compreendiam melhor muitas das novas idéias e dos temas maiores da Ciência.
Um dos que realizaram as mudanças na redação de Ciência Popular foi o jornalista David
Dietz. Dietz escreveu sua primeira matéria sobre Ciência em 1915 para o Cleveland Press
enquanto era calouro e correspondente no campus da Western Reserve University. As aulas
que assistiu de Ciências deram-lhe o vocabulário necessário e o conhecimento de
Ciência daquela época para trocar idéias facilmente com os cientistas. A sua
contribuição foi significativa para jornalistas se especializarem em reportagem
científica.
Dietz escreveu matérias sobre Ciência e Medicina por mais de 60 anos. Considerava os
cientistas de prêmio Nobel Arthur Compton, Robert A. Milikan e Wendell Stanley seus
amigos. Ele e o astrônomo Edwin P. Hubble jogavam cartas no Observatório de Mount Wilson
enquanto esperavam o momento certo de voltar o telescópio para a nebulosa de Orion. Certa
ocasião, Dietz lembrou-se de ter dito a Milikan que teria de perder sua palestra. A
resposta de Milikan: "Vá em frente e escreva seu texto. Não precisa de minhas
notas. Sabe tanto quanto eu sobre o assunto"(Dietz, 1977, 25,26). O conhecimento de
temas por Dietz e a sua aceitação pelos cientistas não tiveram paralelo em sua época e
continuam assim hoje.
Em 1921, apareceu pela primeira vez um serviço noticioso dedicado à reportagem
científica. O Publisher de Diez, E. W. Scripps, da Scripps- Howard newspaper e do
serviço telegráfico da Agência United Press, lançou o Science Service para disseminar
notícias científicas. O Science Service evoluiu para a atual Science News, a única
revista semanal popular de notícias científicas.
Nesse período entre guerras, outros jornais americanos colocaram profissionais em tempo
integral para assuntos de ciência e medicina. Waldemar Kaempfert tornou-se editor de
Ciência do New York Times. Howard Blakeslee passou a fazer reportagem científica para a
Associated Press. John J O'Neill escrevia para o Heral Tribune de Nova Iorque.
Esses repórteres se organizaram para aumentar seu poder de barganha, por privilégios de
Imprensa junto às Organizações dos cientistas. A National Association of Science
Writers(Nasw) teve início em 1934 com 12 membros e Dietz como presidente. Ao longo dos
anos a Nasw obteve um conjunto de privilégios operacionais em reuniões científicas que
incluíam uma coordenação oficial da imprensa, salas, telefones, máquinas de escrever,
cópias dos trabalhos para estudo, conferências de imprensa, livros de referência e
outras acomodações para facilitar e melhorar as reportagens.
Com a Segunda Guerra Mundial havia desejos compartilhados de compreender campos inteiros
da Ciência e Tecnologia, tais como radar e eletrônica, que haviam avançado
tremendamente por detrás dos muros do segredo militar. Físicos pertubados, entre outros,
partilhavam com os jornalistas o desejo de manter aberta o máximo possível as
informações sobre energia nuclear. O desenvolvimento da penicilina em tempo de guerra,
acompanhado de novas pesquisas e técnicas de produção biológicas faziam crer que as
ciências da vida podiam tornar a medicina uma ciência verdadeira. A propulsão a jato,
tomada aos laboratórios militares alemães, prometia um novo tipo de transporte aéreo, a
quebra da velocidade do som, e velocidades e distâncias de vôo antes inimagináveis. A
guerra produziu milhões de homens e mulheres ansiosos para serem informados sobre as
novas Ciências, pois ela era tão útil, que chegou a determinar a vitória na guerra
(Warren Burkett, 1990, 37). Os cientistas do mundo inteiro sentiram uma transformação
nos modos que as nações encaravam e financiavam a pesquisa científica. A grande
Ciência havia chegado, consumido grandes quantidades de fundos públicos e entrado no
debate político sobre financiamento e política, o campo natural do jornalismo.
Em nossos dias, a competição das notícias científicas pelo espaço nos jornais,
telejornais, revistas, rádios levou os veículos de comunicação a examinarem seu
público, pois a habilidade em atrair e manter os leitores, telespectadores e ouvintes é
crucial para estabilidade financeira.
Notícia de Ciência e o público
Os repórteres e editores de veículos de massa não tem garantia do interesse dos
leitores e portanto tentam medir o que o público deseja. Durante os últimos quarenta
anos, pesquisas têm dado notas consideravelmente altas ao interesse do público por
informação científica. Embora todas as pesquisas não sejam diretamente comparáveis,
esse interesse parece estar em crescimento.
Um dos primeiros estudos de público cobria 130 jornais publicados entre 1939 e 1950.
Notícias sobre ciência, invenções, saúde e segurança eram consideradas mais
importantes pelos leitores do que acidentes, governo nacional, governo local, esportes,
arte, música e literatura.
A National Association of Science Writers encomendou posteriormente duas pesquisas ao
Survey Research Center na universidade de Michigan. "Science, the News and the
public"foi conduzida em 1957. O segundo estudo da Nasw, "Satellites, Science an
the public", saiu depois que a Rússia lançou o primeiro Sputnik. Os pesquisadores
descobriram que as categorias gerais de ciência, medicina e saúde detinham mais ou menos
as mesmas posições, e que 90% dos leitores de então sabiam da existência do Sputnik.
Dois pontos se destacavam a consciência de um evento científico é estimulada pela
publicação de notícias desse evento, e um considerável grupos de indivíduos são
curiosos a respeito de qualquer coisa em ciência.
Esse público deseja mais notícias científicas. O nível de interpretação aumenta onde
os repórteres de ciência colocam sua informação sob a forma de narrativa ou de
história, onde adaptam às necessidades do seu público, onde personalizam e até mesmo a
tornam sensacionalista. E, concluiu Wilbur Schramm, a maior parte do que se aprende sobre
ciência vem dos veículos de comunicação de massa depois que as pessoas deixam a escola
(1962,1-20).
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OBS: Relatório do projeto de pesquisa UFES/CNPq, orientado pelo prof. Giovandro Ferreira, apresentado em julho de 1.998.