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O espaço para a divulgação científica no Brasil

Eliana Frantz de Macedo*

       O modo como o jornalismo científico se desenvolve no país mostra que ele ainda está em fase embrionária, sendo necessária uma conscientização, por parte das escolas de jornalismo, sobre a sua importância, de modo que os estudantes, ávidos por aprender, se sintam à vontade ao lidarem com ciência e tecnologia.
       Não é preciso ser cientista para entender de jornalismo científico e nem ser jornalista para entender ciência: é necessário entender que o mundo mudou, que se vive em pleno século XXI, onde urge, sobretudo, a preocupação com o meio ambiente.
       É preciso lembrar que não é só da água, do ar, da terra que se fala, mas sim, da vida no planeta,: a biodiversidade enfim, a riqueza maior, que está sendo prejudicada por ações impensadas, pela prática de queimadas, pelo uso de agrotóxicos, cada vez mais disseminados pelas multinacionais, e pela ganância dos laboratórios . Ao fabricar venenos agrícolas capazes de matar uma praga, a indústria contribui também para acabar com uma plantação , para a erosão do solo, eliminando as chances de sobrevivência de muitas espécies.

Então, por que divulgar ciência é questão de cidadania?

       Fabíola de Oliveira lembra que "antes de qualquer coisa vamos procurar responder à uma questão simples, com resposta aparentemente óbvia: por que jornalismo científico e por que divulgar a ciência? Dizer que ciência e a tecnologia são imprescindíveis para o desenvolvimento de um país, parece hoje senso comum, e está presente até no discurso de grande parte dos políticos. É bonito e faz efeito, como dizer que a educação é essencial, que sem educação o país não evolui. Então não vamos perder mais tempo com a relevância da ciência. O que nos importa aqui é tratar da necessidade das pessoas, o maior número possível delas dentro de uma sociedade, terem acesso a informações científicas. Principalmente aquelas que afetam diretamente suas vidas, que têm efeitos políticos, econômicos e sociais imperceptíveis às pessoas não informadas".
       Assim, a divulgação científica no Brasil precisa ser mais arrojada, não se restringindo a assunto de acadêmicos e cientistas, mas indo de encontro ao povo, ao cidadão que mal sabe ler e escrever, mas que precisa entender o mundo em que vive.
       Falar de "biodiversidade" para uma minoria, com pouca informação sobre meio ambiente, não é uma tarefa fácil, sobretudo porque o conceito é amplo e abrange, por exemplo, o lagarto que vive no cerrado e cuja extinção é real, mas tem também a ver com a utilização dos transgênicos, que podem afetar a saúde da população, e com os defensivos agrícolas usados nas lavouras de arroz e que comprometem a vida dos rios, porque os poluentes levados para eles impedem que a flora e a fauna se desenvolvam.
       Fazer um alerta à comunidade acadêmica, com certeza, trará grandes benefícios para a sociedade, pois, ao se repassar a informação para o público, muitos problemas e desastres ecológicos seriam evitados.
       O que é importante, ao divulgar ciência, é fazer o ouvinte, o leitor e aquele que assiste aos programas de televisão ficarem atentos ao assunto abordado, estarem em sintonia com o que está sendo explicado, de forma que a informação que é repassada pelo jornalista científico se torne um fato comum, um hábito saudável, como é a leitura ou mesmo a escuta da notícia do futebol. O importante, portanto, é criar um canal de informação para que o povo seja capaz de entender de onde veio e para onde irá, com vistas a encarar a realidade e a fazer do planeta em que vive a sua verdadeira casa: cuidando dele, protegendo-o.
       Vânia Mattozo aponta que, nas sociedades modernas e democráticas, a ciência e a tecnologia influem na forma de vida de todos que as integram. As questões de saúde e ambiente e a aplicação da tecnologia na vida cotidiana são os exemplos mais claros desta relação social. Mais do que nunca, a ciência tem objetivos econômicos, políticos e culturais e o direito à informação, em particular à informação científica, insere-se nesse contexto como uma condição necessária para a consolidação de uma sociedade democrática.
       Ahrweiler afirma que certamente as práticas de divulgação científica, que incluem o jornalismo científico, estão no centro das relações de forças antagônicas que se evidenciam à medida que o conhecimento científico se orienta progressivamente para objetivos políticos e econômicos.
       No Brasil, como em vários países da América Latina, a concessão e o uso dos meios de comunicação de massa ainda sofrem interferência do poder político e, mais recentemente, do poder religioso. Dessa forma, o espírito crítico que deve orientar a prática da divulgação científica poderá ser comprometido crescentemente por estas questões, porque a globalização pode repercutir, de maneira ampla e rápida, as divergências entre esses interesses, sejam eles políticos, comerciais ou religiosos.
       Para Bueno, o jornalismo científico possui um compromisso com a alfabetização científica do público e precisa compartilhar essa missão pedagógica com a disposição política, assumindo o seu papel como agente de emancipação e de resistência, de crítica à desterritorialização e ao fetichismo tecnológico.
       Portanto, reafirmando a visão de diversos autores sobre o tema em questão, é importante ressaltar a importância da divulgação científica nas universidades, de forma que a informação em ciência e tecnologia seja simplificada, que se reduza ou se elimine o antagonismo entre jornalistas científicos e cientistas, levando-os a mesma conclusão: é fundamental que a ciência seja divulgada "para todos", contribuindo para um mundo melhor.

Bibliografia

AHRWEILER, Hélene, Una ética para la comunicación científica. Revista Quark. Disponível em: <http://ww.imim.es/quark/artículos/ numero1/qk0102.htm>. Acesso em 2001.

BUENO, Wilson da Costa. Os novos desafios do Jornalismo Científico. Acesso em: 2001.

MATTOZO, Vânia Aparecida. Mídia digital de informação científica e tecnológica sobre energia. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia de Produção. Florianópolis: UFSC, 2002.

FABÍOLA DE OLIVEIRA. Texto da introdução de jornalismo científico: parceiros desde Gutenberg. São Paulo: Editora Contexto, 2002.

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*Eliana Frantz de Macedo é jornalista, pesquisadora, profissional liberal free-lancer. Novo Hamburgo/RS, agosto de 2005. E-mail: efrantz@uol.com.br.

 
 
 
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