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Jornalismo Científico

 

     O Jornalismo Científico diz respeito à divulgação da ciência e tecnologia pelos meios de comunicação de massa, segundo os critérios e o sistema de produção jornalísticos.
     É importante, pois, atentar para as duas partes essenciais desta expressão e que definem o conceito: o Jornalismo e o Científico. Isso porque é possível encontrar, nos meios de comunicação de massa, onde se manifesta a atividade jornalística, textos, artigos ou materiais sobre temas de ciência e tecnologia e que não podem ser considerados jornalismo cientifico, exatamente porque não são, em princípio, jornalismo. Estranho? Nem tanto: nos jornais e revistas, estão incluídos os anúncios e estas mensagens são publicidade e não, jornalismo. Repetindo a lição: nem tudo que fala sobre ciência e está escrito em jornais ou revistas é jornalismo científico.
     Outro exemplo: uma coleção de fascículos sobre história da ciência e da tecnologia, encartada num jornal ou revista, não se constitui em exemplo de Jornalismo Científico. Ela está localizada no campo da editoração, que é outra coisa.
     Mais dois exemplos? O Caderno Resenhas, publicado pela Folha de São Paulo, a partir de um acordo com a Universidade de São Paulo, discorre sobre temas de ciência, mas não faz qualquer concessão ao discurso jornalístico, nem tem qualquer compromisso com a atualidade. Alguns artigos publicados pela revista Ciência Hoje, da SBPC, escritas por pesquisadores, apesar de bem ilustradas, não podem ser incluídos na categoria Jornalismo Científico. Não porque não sejam bons, mas porque nada tem a ver com o Jornalismo.
     Não se quer dizer, com isso, que todos estes materiais não sejam importantes e não devam ser consultados. Pelo contrário, devemos levantar as mãos para os céus, quando um veículo de comunicação se dispõe a produzir fascículos sobre história da ciência e da tecnologia, louvar o aparecimento do Caderno Resenhas e agradecer, pelo resto da vida, à SBPC pela revista Ciência Hoje, a mais importante contribuição à divulgação cientifica da ciência e da tecnologia nacionais.
     Divulgação científica e Jornalismo Científico não são a mesma coisa, embora estejam muito próximas. Ambos se destinam ao chamado público leigo, com a intenção de democratizar as informações (pesquisas, inovações, conceitos de ciência e tecnologia), mas a primeira não é jornalismo. É o caso, tanto dos fascículos como de uma série de palestras que traduz em linguagem adequada a ciência e a tecnologia para o cidadão comum. Assim como os fascículos, palestra não se enquadra dentre os gêneros do Jornalismo. Mais uma coisa para guardar: o Jornalismo Científico é um caso particular de Divulgação Científica: é uma forma de divulgação endereçada ao público leigo, mas que obedece ao padrão de produção jornalística. Mas nem toda a Divulgação Científica se confunde com Jornalismo Científico. Os fasciculos são um exemplo, as palestras para popularizar a ciência são outro e os livros didáticos mais um ainda.
     Já o Caderno Resenhas nem seria divulgação científica porque o público a que se destina não é o cidadão comum. O que seria, então? Aí temos uma outra modalidade de difusão de ciência e tecnologia, chamada disseminação científica, que é aquela que tem como público-alvo os especialistas, os próprios pesquisadores e cientistas. A disseminação científica ocorre também nas revistas científicas, nos materiais (comunicações, pesquisas e ensaios) apresentados nos eventos científicos e assim por diante.
     Então, é preciso ficar claro: Jornalismo Científico, Divulgação Científica e Disseminação Científica são conceitos diferentes e exprimem manifestações diversas do processo amplo de difusão de informações sobre ciência e tecnologia.
     É importante perceber isso? Achamos que sim. E se a Folha de S. Paulo tivesse esta consciência, não distribuiria 400 mil ou mais exemplares do Caderno de Resenhas, encartados no jornal, se, por definição e linguagem, eles são acessíveis talvez (sendo muito otimista) a um 10% deste total. Uma dica: distribuir de graça para os interessados, o que fica reduziria sensivelmente os custos. O papel utilizado, a distribuição e a impressão destes Cadernos implica em custos elevados e não há dúvida de que a maior parte dos leitores descarta, de pronto, o Cadernos, sem ao menos folheá-lo. Afinal de contas, nem tudo que vem com a edição do jornal é para ser lido, não é mesmo? Um lembrete : os Cadernos são importantíssimos, mas talvez a mídia não seja a mais adequada, porque não é este o perfil básico do leitor de um jornal de informação geral, mesmo sendo de prestígio, como a Folha de S. Paulo.
     O Jornalismo Científico, que deve ser em primeiro lugar Jornalismo, depende estritamente de alguns parâmetros que tipificam o jornalismo, como a periodicidade, a atualidade e a difusão coletiva. O Jornalismo, enquanto atividade profissional, modalidade de discurso e forma de produção tem características próprias, gêneros próprios e assim por diante.
     Já tivemos suplementos de ciência nos jornais que eram produzidos por cientistas e pesquisadores, nem um pouco comprometidos com o Jornalismo. Simplesmente, eram reproduzidos nos jornais e revistas textos ou ensaios inéditos ou já apresentados em congressos científicos, quase sempre inacessíveis ao leitor comum. Jornalismo Científico? De forma alguma. Então, disto isto, está tudo dominado?
     O Brasil tem uma larga tradição no Jornalismo Científico e alguns pesquisadores da história do Jornalismo, como o prof. dr. José Marques de Melo, já percebiam manifestações desta modalidade de Jornalismo no século 19, em Hipólito da Costa, fundador do Correio Braziliense.
     O decano do Jornalismo Científico Brasileiro é José Reis que, há mais de 50 anos, escreve regularmente na Folha de S. Paulo e que tem contribuição relevante tanto ao jornalismo e à divulgação científicos como à ciência nacional, destacando-se como emérito pesquisador. A USP mantém, há muitos anos, o Núcleo José Reis que promove, sistematicamente, cursos, edita publicações e realiza pesquisas em Jornalismo Científico. José Reis também é o nome de um concurso nacional para premiar iniciativas na área do Jornalismo e da Divulgação Científica. Internacionalmente, dentre tantos outros estudiosos e pesquisadores, é imperioso ressaltar a contribuição de Manuel Calvo Hernando, jornalista e professor espanhol, que há décadas vem formando e estimulando a criação de núcleos de jornalismo científico em toda a América Latina. Os trabalhos de Calvo Hernando são referência nos estudos e pesquisas em Jornalismo Científico e é incansável o seu trabalho, desenvolvido junto à Associação de Jornalismo Cientifico na Espanha e na Associação Iberoamericana de Jornalismo Científico, da qual foi presidente e continua atuante como diretor.
     O Jornalismo Científico brasileiro tem se profissionalizado nos últimos anos a partir, sobretudo, da contribuição da Universidade, com a constituição de agências experimentais de notícias em que há participação efetiva dos futuros profissionais de jornalismo. A FAPESP, recentemente, instituiu um projeto para incentivo à formação de jornalistas científicos. A UMESP tem uma área de pesquisa há algum tempo, em seu programa de pós-graduação em Comunicação Social, voltada para a comunicação científica (e o jornalismo científico, em particular), com dezenas de dissertações e teses já defendidas. A Universidade de São Paulo, a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Federal de Pernambuco também se ocupam deste tema. Temos também, a exemplo de outros países, uma Associação de Jornalismo Científico, a ABJC, constituída por cerca de 400 sócios. Merece menção aqui a participação, desde o seu início, de dr. Júlio Abramczyk, conceituado médico e jornalista, redator médico da Folha, seu ex-presidente, responsável, certamente, pelo seu desenvolvimento.
     O Jornalismo Científico também ganhou a Internet e manifestações importantes podem ser aí percebidas, com o jornal eletrônico Comciência, vinculado ao Labjor/Unicamp, o site Ciênciapress, da bióloga e divulgadora científica Glória Malavoglia e o debate ampliado pelo importante Observatório da Imprensa. Os grandes veículos de divulgação também praticam o Jornalismo Científico na rede mundial, com destaque ao jornais O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O Globo, Jornal do Brasil, Jornal do Commercio/PE e O Povo/CE, dentre muitos outros.
     É preciso ter em mente que o Jornalismo Científico abrange não apenas as chamadas " ciências duras" - Física, Química etc, mas inclui as ciências humanas (Educação, Sociologia, Comunicação etc) e que, em virtude da especialização em algumas áreas, tem assumido denominações particulares,em alguns casos, como o Jornalismo Ambiental, o Jornalismo em Agribusiness, o Jornalismo em Saúde, o Jornalismo Econômico , o Jornalismo em Informática etc. Na prática, no entanto, todas estas manifestações específicas remetem para o Jornalismo Científico, entendido aqui como o termo genérico, mais abrangente.
 
 
 
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